quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A REVOLUÇÃO SOVIÉTICA




De Fevereiro a Outubro de 1917

A revolta das mulheres contra o aumento do preço do pão, acompanhada por revoltas e greves dos operários e dos soldados contra a guerra provocou a revolução de Fevereiro de 1917 na qual o Czar foi obrigado a renunciar ao poder deixando a Rússia nas mãos dos partidos politicamente mais ativos. Ministros e generais foram presos.
Os mencheviques e socialistas revolucionários asseguraram o controle do soviete de Petrogrado cujo chefe era o menchevique Tchkheidizé. Negociações entre os revolucionários e os constitucionais democratas conduziram ao poder o príncipe Lvov como chefe do governo provisório mas o clima conspirativo aumentou sob o impulso dos bolcheviques que conseguiram assegurar o controlo do soviete de Petrogrado no sentido de retirar o poder à burguesia e entregá-lo a um governo revolucionário.

Lvov e mais tarde Kerensky procuraram acalmar a situação e encaminhar o país no sentido do parlamentarismo ocidental mas o facto de não terem suspendido as ações militares e continuarem uma política pró-aliada fomentou um clima de revolta de rua numa estratégia revolucionária dirigida por Lenine entretanto regressado do exílio. Os sovietes, conselhos de operários, soldados e camponeses, controlados de início pelos mencheviques e socialistas revolucionários e mais tarde pelos bolcheviques formaram-se por toda a Rússia e tornaram-se a partir de Agosto de 1917, os polos dinamizadores do movimento revolucionário.

As divergências entre bolcheviques, socialistas revolucionários e mencheviques levaram a um confronto de posições crescente ao longo desse ano de 1917. Lenine considerava que a fase burguesa não era necessária no caminho para atingir o socialismo. Os bolcheviques exigiam:


  • a recusa da guerra
  • distribuição das terras, estatização dos bancos e fábricas
  • entrega do poder aos sovietes
O clima adensou-se a partir de Abril. Revoltas, manifestações e confrontos obrigaram Lenine a refugiar-se na Finlândia. Os sovietes favoráveis aos bolcheviques foram perseguidos pelos governos provisórios. Os cossacos, entraram em Petrogrado e tentaram prender os bolcheviques mas estes defenderam a cidade e conseguiram manter o ímpeto revolucionário mesmo contra exércitos de cossacos. O governo provisório caiu e as populações tomaram progressivamente controlo dos campos e das fábricas. Os bolcheviques eram já maioritários nos sovietes de Petrogrado, Moscovo e Kiev. Os soldados desertaram da frente de combate permitindo às tropas alemãs e austríacas controlarem vastas regiões da Rússia ocidental.

Em Outubro de 1917 o clima de sublevação transformou-se em movimento revolucionário orientado pelos sovietes bolcheviques e suas milícias, os Guardas Vermelhos, acabando por derrubar o governo provisório de Petrogrado. Na noite de 24 para 25 de Outubro (calendário Juliano) Petrogrado foi tomada pelos guardas vermelhos organizados por Trotsky, o couraçado Aurora disparou sobre o Palácio de Inverno sede do governo e o governo capitulou. Kerensky fugiu e os ministros foram presos.
O II Congresso dos Sovietes entregou no mesmo dia o poder ao Conselho dos Comissários do Povo presidido por Lenine. Trotsky recebeu a pasta do exército e Estaline a pasta das nacionalidades.



O governo revolucionário presidido por Lenine tomou controlo da situação e iniciou a publicação de decretos revolucionários que procuravam legalizar as reformas revolucionárias já iniciadas e instaurar a ditadura do proletariado:

  • Decreto sobre a paz - foi negociado o tratado de Brest Litovsk que permitiu um armistício antecipado com a Alemanha em condições muito desvantajosas pois a Rússia perdia grandes extensões de território. Esta paz separada provocou por sua vez o início do conflito com as ex-potências aliadas que invadiram os territórios da Rússia procurando combater a revolução e impedir a ocupação pelas tropas dos impérios centrais, dos territórios abandonados pelos Russos. Iniciou-se então a guerra civil.
  • Decreto sobre a terra - coletivização das terras e entrega das colheitas ao Estado. Fim da grande propriedade fundiária da Coroa, da Igreja e dos particulares, sem indemnizações.
  • Decreto sobre o controlo operário - coletivização das empresas, indústrias, minas, companhias de transportes, seguros, etc.
  • Decreto das nacionalidades - proclamação da Carta do Povo Russo que reconhecia o livre desenvolvimento das diferentes etnias e minorias nacionais, evitando a revolta e conflitualidades internas.
  • Decreto sobre a imprensa - liberdade de imprensa, reunião e associação
  • 1ª Constituição Revolucionária - proclamando a Rússia como estado federal e multinacional, favorecendo o operariado e as suas reivindicações mas reservando o sufrágio direto e universal apenas para a constituição dos sovietes locais.
  • Reunião da 3ª Internacional comunista que propôs a união de todos os partidos comunistas numa única organização o Komintern controlado por Moscovo e que defendia o movimento internacionalista comunista numa via marxista - leninista. Este movimento acabou por afastar as fações socialistas democráticas discordantes da ditadura do proletariado. Formaram-se a partir de 1919 partidos comunistas por todo o mundo.

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917



A Rússia em 1917 estava em profunda crise política. Governado de forma autoritária pelo czar Nicolau II, o país sentia os efeitos de uma situação social bastante difícil e delicada.

Descontentamento de largos setores da população: camponeses, operários, burguesia e até a nobreza mais liberal. Motivos diversos e diferentes partidos e fações: miséria, concentração fundiária nas mãos da nobreza, salários baixos e miséria do proletariado, variadas razões para reclamar mudanças.

Politicamente a oposição estava dividida entre
  • fação dos socialistas revolucionários que reclamavam partilha de terras, apoiada pelos camponeses.
  • sociais democratas, divididos em bolcheviques mais extremistas (adeptos da via da ditadura do proletariado, da clandestinidade e ação direta) e mencheviquesmoderados que consideravam necessária a existência de um partido de oposição no quadro do parlamentarismo.
  • constitucionais democratas adeptos do parlamentarismo ocidental.
Contexto da revolução: a situação de envolvimento da Rússia na guerra levou a uma situação insustentável de crise social e económica agravada pelas perdas territoriais que puseram em causa a política de participação no conflito seguida pelo czar e seus apoiantes ocidentais. Havia fome, inflação, pobreza da maioria da população, derrotas militares verificando-se um clima de descontentamento e desânimo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O NOVO EQUILÍBRIO GLOBAL DO 1º PÓS-GUERRA

 O final da 1ª Grande Guerra trouxe grandes mudanças no equilíbrio de poderes internacional. A Alemanha saía destroçada e vencida e a Inglaterra e a França, potências vencedoras do conflito, enfrentavam a dura tarefa da reconstrução económica.

Apesar de afetados pelo conflito os E.U.A. tornavam-se então a grande potência mundial.

Na Conferência de Paz iniciada em Janeiro de 1919 em Paris, com o intuito de negociar e impor aos países vencidos condições e indemnizações, estiveram presentes apenas os países vencedores, entre os quais Portugal. Destaca-se a Mensagem dos 14 pontos ao Congresso dos E.U.A. apresentada pelo presidente Wilson à Conferência de Paz que serviu de base às negociações pondo em discussão um conjunto de princípios de diplomacia internacional que aliás serviriam também como fundamento da Sociedade das Nações.

Das discussões ocorridas entre os países vencedores da guerra na Conferência de Paz resultaram tratados de paz entre países vencedores e países vencidos:

Tratado de Versalhes entre os aliados e a Alemanha
Tratado de Saint Germain entre os países aliados e a nova república da Áustria
Tratado de Sèvres entre os aliados e a Turquia
Tratado de Trianon entre os aliados e a nova república da Hungria
Tratado de Neuilly entre os aliados e a Bulgária


Triunfo das nacionalidades e da democracia
Os tratados conduziram a uma reorganização do mapa político da Europa e de algumas regiões de África e da Ásia.

Depois do desaparecimento do império russo desapareceram também os grandes impérios centrais da Europa, a Alemanha, Austro-Hungria e Império Turco surgindo em vez deles diversos novos pequenos estados dando prosseguimento ao princípio das nacionalidades defendido pelos políticos liberais desde o século XIX.

Surgiram assim na Europa no final do conflito a Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e Hungria, na Ásia, a Arábia, Curdistão, Arménia, territórios sob mandato da SDN, a Síria, Líbano, Mesopotâmia e Palestina.

A França recuperou a Alsácia-Lorena, a Bélgica ganhou os cantões de Eupen e Malmedy, a Itália recebeu o Tirol e a Istria, a Dinamarca recuperou o norte de Schleswig, a Roménia recebeu a Transilvânia e a Bessarábia enquanto a Grécia recebeu a Trácia da Bulgária.

A Alemanha era no entanto a potência mais afetada. Além da perda de territórios na África e Ásia perdia também o seu enorme poder militar.

Entre os alemães o sentimento de vingança desenvolveu-se ao longo dos anos tendo como principal alvo a França, considerada responsável pelas duras condições de derrota impostas pelos aliados, o Diktat.

Hitler na sua obra Mein Kampf dá voz a sentimentos revanchistas contra franceses e judeus ao afirmar:

"O sonho da França é e sempre será impedir a formação de um poder sólido na Alemanha, conservando um sistema de pequenos Estados com forças equilibradas e sem uma direção uniforme, com a ocupação da margem esquerda do Reno para assegurar a sua hegemonia na Europa." e mais adiante, "... assim o judeu é hoje o grande instigador do completo aniquilamento da Alemanha. Todos os ataques contra a Alemanha, no mundo inteiro, são da autoria de judeus."

As perdas da Alemanha foram enormes:
  • perda dos territórios coloniais
  • separação da Prússia Oriental do território alemão através do corredor de Danzig,  enclave polaco sob a proteção da Sociedade das Nações.
  • Devolução dos territórios da Alsácia e Lorena à França, Eupen e Malmedy à Bélgica, diversas regiões alemãs integradas na Polónia, Checoslováquia e Dinamarca.
  • perda de grande parte da frota mercante.
  • ocupação pela França das minas do Sarre e da Renânia.
  • pagamento de indemnizações de guerra
  • desmilitarização da Alemanha com perda de grande parte do exército e da infantaria além da frota naval e aviação de combate.
  • desmilitarização da margem direita e esquerda do Reno com ocupação das regiões de fronteira com a França, por exércitos deste país.

Sociedade das Nações

Durante os trabalhos da Conferência de Paz os países vencedores do conflito sob proposta do presidente Wilson dos E.U.A., decidiram a criação de uma organização mundial que propunha a resolução dos conflitos pela via pacífica. Antecessora da O.N.U., na S.D.N. existiam vários organismos como o Tribunal Internacional de Justiça, o Banco Internacional, a Organização Internacional do Trabalho e algumas outras que procuravam dar seguimento aos objetivos propostos pela organização.

Vários problemas acabaram por limitar o alcance de intervenção da S.D.N. dificultando a sua missão e retirando-lhe eficácia:
  • Os países vencidos pela guerra como a Alemanha não faziam parte da organização
  • Alguns dos vencedores como Portugal ou a Itália não se mostraram satisfeitos com as reparações pagas pelos países agressores.
  • Isolacionismo dos E.U.A.
  • Regulamentação das fronteiras e a satisfação das reivindicações das minorias nacionais, muito criticada nos países vencidos criando animosidades e oposição às condições dos tratados de paz. O Diktat de Versalhes foi por exemplo muito criticado pelos alemães.
  • As relações estabelecidas entre a Alemanha e alguns dos países vencedores da guerra dificultaram a tomada de posições contra as manobras e atividades belicistas de Hitler ao longo dos anos 30.


Os constrangimentos da política interna e externa dos E.U.A. levantada pelo lamentável estado dos países europeus e pela questão das reparações de guerra fez com que a S.D.N. perdesse grande parte da sua credibilidade e margem de manobra.

A situação da Europa no pós-guerra era muito difícil: destruição, quebra demográfica, inflação galopante e desvalorizações monetárias acentuadas.

E.U.A. 

A guerra permitiu grande prosperidade aos Estados Unidos da América. Apesar de se terem feito sentir os efeitos críticos de um período de excesso de produção, a economia conseguiu recuperar através da adoção generalizada do novo modelo de produção industrial, da concentração monopolista de empresas beneficiando ainda do relançamento da economia europeia. Também a adoção pelos países europeus do Gold Exchange Standard permitiu a reanimação do comércio internacional. Os E.U.A. tornaram-se o grande financiador das economias europeias, nomeadamente a alemã, permitindo-lhe o pagamento das reparações e indemnizações que eram devidas ao Reino Unido e à França. 

PARA RELEMBRAR A GRANDE GUERRA