terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O FIM DA PROSPERIDADE ECONÓMICA - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

 



1973 marcou o fim do longo período de prosperidade económica do pós-guerra.

  • O choque petrolífero 
O apoio dos E.U.A e da Europa a Israel no período que se seguiu à ocupação dos territórios árabes na sequência da Guerra dos seis dias em 1967 e da guerra do Yom Kippur provocou a retaliação dos árabes utilizando a matéria prima como arma contra a economia ocidental. O abastecimento de petróleo ao ocidente foi fortemente condicionado e mesmo cortado aos E.U.A., Holanda e Dinamarca. Tal situação provocou uma espiral inflacionista e uma crise económica que se aprofundou ainda mais em 1979 devido à crise do Irão e à guerra Irão/Iraque. Neste período várias economias como a portuguesa entraram em crise acentuada.
  • A instabilidade monetária
Também a instabilidade monetária provocada pela desvalorização do dólar resultante do elevado défice dos E.U.A. e consequência dos gastos elevados com a guerra do Vietname e investimentos no exterior, vieram ainda complicar mais a situação dado que Nixon suspendeu em 1971 a convertibilidade da moeda em ouro provocando uma crise monetária que afetou todas as economias do mundo ao longo dos anos 70.
  • A concorrência dos produtos estrangeiros na economia americana
  provocou uma crise de superprodução na indústria reduzindo os lucros das empresas.


A crise dos anos 70 teve efeitos duradouros e marcou uma viragem em todo o mundo. 
  • O desemprego tornou-se um problema crónico dos países de todo o mundo dado o elevado preço do petróleo que desde então condiciona toda a produção industrial e todo o comércio mundial obrigando em períodos de maiores dificuldades ao despedimento ou encerramento das empresas. 
  • O setor secundário sofreu grandes transformações decorrentes da sua reconversão e modernização e do aparecimento de novas tecnologias que aceleram a produção e as trocas e permitem reduzir o número de funcionários das empresas com a utilização de robots e programas informáticos. 
  • O Setor terciário e o comércio desenvolveram-se embora a um ritmo menos rápido do que antes de 1970 (cerca de 5%)
  • A dimensão dos aparelhos de Estado conheceu grande desenvolvimento que foi resultante da multiplicação de serviços estatais e da generalização do Welfare State, assente no pressuposto da igualdade de direitos também no acesso a bens e serviços essenciais como a educação, a saúde e a justiça.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O TERCEIRO MUNDO E O MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS

 O terceiro mundo, a Conferência de Bandung e o movimento dos não alinhados.

A AFIRMAÇÃO DAS NOVAS POTÊNCIAS

 O rápido crescimento do Japão


O rápido desenvolvimento do Japão a partir de 1952 deveu-se a vários fatores entre os quais se destacam: 

  • A ajuda norte americana que promoveu a implantação de um novo regime político multipartidário e democrático e a concessão de ajudas, apoios económicos e às exportações e uma ajuda financeira substancial necessária à recuperação do país.
  • o entendimento entre o Estado e os grandes grupos empresariais no sentido de promover o crescimento económico e o desenvolvimento social. O Estado interveio na regulação do investimento, na concessão de créditos, na proteção das empresas e do mercado nacional não sobrecarregando as empresas com obrigações sociais que dificultassem a sua reconversão e recuperação. 
  • Uma cultura tradicionalista com a colaboração ativa de uma população imbuída de um espírito de entreajuda e de lealdade e colaboração com os empresários mantendo baixos níveis de reivindicação salarial e possuindo um nível de escolaridade elevado.  
O milagre japonês
Sem matérias primas e pouco território cultivável o Japão baseou o seu crescimento no pós guerra num desenvolvimento industrial e comercial em duas fases: 
  • de 1955 a 61 uma primeira fase em que a produção industrial triplicou e em que se realizaram investimentos nas industrias transformadoras de bens de consumo e indústria pesada. As exportações aumentaram assim como as importações de matérias primas. 
  • de 1966 a 71 com um novo impulso económico nas áreas da eletrónica e da produção automóvel. 


O afastamento da China do bloco soviético 

Mao Tsé Tung tornou-se o líder da China comunista. Com ele o marxismo assumiu uma feição diferente do leninismo, o chamado maoísmo que enfatizava o papel dos camponeses na liderança da revolução e considerava a necessidade de uma revolução social protagonizada pelas massas sendo para isso necessário consciencializar as populações para as transformações revolucionárias tendo como base a atuação dos dirigentes de acordo com uma postura de humildade e autocrítica. 
A revolução não teve os resultados que Mao previa nos primeiros anos. É assim que, a partir de 1957, Mao  se afastou progressivamente da União Soviética e do seu modelo de desenvolvimento industrial censurando a postura revisionista e reformista da coexistência pacífica, que Krutschev desenvolveu, com as aproximações feitas aos E.U.A. e ao mundo ocidental. 
Grande salto em frente desenvolveu-se então, incidindo a atenção governamental nas  comunidades rurais baseando-se num modelo de auto suficiência de agricultura comunal e  indústria artesanal, em vez da indústria pesada como ocorrera anteriormente. 
Censurado pelos soviéticos, Mao considerava a China o único país verdadeiramente comunista facto que seduziu os intelectuais de esquerda por todo o mundo nomeadamente os ocidentais e africanos. 
No entanto o falhanço desta política levou ao afastamento provisório de Mao que no entanto recuperou influência a partir de 1964 após a publicação do Livro Vermelho. Este, permitiu o regresso ao poder de Mao com a Revolução Cultural chinesa que  no entanto levou a um período de grande instabilidade que Mao só conseguiu vencer em 1968 recorrendo à repressão e efetuando uma depuração forçada na sociedade. 

Recuperando influência, Mao desenvolveu uma diplomacia intensa nomeadamente recorrendo ao apoio dos E.U.A. e do presidente Nixon que na altura estava envolvido no recrudescimento das  tensões com a União Soviética. Em 1971 a China Comunista substituiu a China Nacionalista (Formosa) na O.N.U., facto que foi considerado uma grande vitória pelas esquerdas em todo o mundo e com enorme impacto no alastramento das tensões anti imperialistas em vários territórios de África e Ásia nomeadamente nos conflitos do Vietname, Laos, Angola, Moçambique e Guiné. Teve no entanto um forte impacto pela dissolução progressiva das influências políticas bipolares que até então se verificavam no mundo. A China tornou-se desde então numa grande potência militar a nível mundial. 

Ascensão da Europa - da CECA à CEE

Nos anos do pós-guerra surgiu um novo consenso nos meios políticos quanto à necessidade de a Europa construir um novo modelo de convivência pacífica facto que provocou ao mesmo tempo a criação de várias organizações europeístas e de encontros e outros eventos cujo objetivo era construir laços entre os países do velho continente. 
Apesar das divergências que radicavam numa perspetiva do que poderia vir a ser a Europa num futuro de médio prazo - uma confederação de estados independentes ou uma federação de estados europeus - a Declaração Schuman deu um primeiro passo para a cooperação entre a França e a Alemanha como forma de contrariar ressentimentos e impulsionar uma orientação pacifica e produtiva entre as duas grandes potências continentais. Assim, surgiu entre estes dois países, em 1951, a CECA, Comunidade Europeia do Carvão e do Aço ao qual  aderiram também a Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo e controlada por uma Autoridade supranacional. Com base nesta organização surgiu em 1957 a CEE criada pelo Tratado de Roma núcleo fundador da União Europeia, com os seguintes objetivos: 





A UNIÃO EUROPEIA

  • implementação progressiva da livre circulação de capitais, bens e pessoas.
  • livre emprego.
  • livre prestação de serviços. 
  • política agrícola comum, política comum de transportes e de energia. 
Em 1968, estabeleceu-se a união aduaneira que desde logo permitiu um acréscimo imediato do comércio e da intensidade das trocas e da produção agrícola e industrial. 
Em 1973, integraram a CEE, o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca.  Em 1981 a Grécia.
Em 1986, Espanha e Portugal. Em 1995 a Áustria, a Finlândia e a Suécia.
Em 2004, a República Checa, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta e Polónia. Em 2007Bulgária e Roménia. E desde aí...?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A AFIRMAÇÃO DOS ESTADOS PROVIDÊNCIA

 O Reino Unido terá sido pioneiro do Estado Providência, já que desde os anos 20 medidas foram tomadas no sentido de minorar os efeitos do desemprego e prever situações de doença. Depois da 2ª GG o sistema generalizou-se impulsionado pelas políticas social-democratas acautelando as situações não só de desemprego e doença mas também de velhice e acidente, apoio às famílias e outros subsídios aos mais pobres. Também ao Estado foram conferidas responsabilidades no campo da habitação, ensino e saúde com o objctivo de reduzir a miséria e contribuindo para maior justiça e bem estar social. 



Prosperidade económica 

Os anos 50 assistiram a grande crescimento económico nos países ocidentais tendo o capitalismo possibilitado um acréscimo de bem estar a largas camadas de população de uma forma nunca antes vista. De 1945 a 1973 houve grandes acréscimos da produção mundial para isso contribuindo em grande parte sectores essenciais como os da energia e da produção automóvel. Nesse período não se assistiram a períodos de crise económica e certos países como o Japão, Alemanha e França tiveram elevadíssimas taxas de crescimento devidas a factores como: 

  • aceleração do progresso tecnológico
  • recurso ao petróleo como matéria prima energética por excelência. 
  • aumento da concentração industrial e do número e dimensão das empresas multinacionais.
  • aumento da população activa
  • modernização da agricultura
  • crescimento do sector terciário

Sociedade de consumo

A Europa aderiu ao longo dos anos 50 e 60 a padrões de consumo e conforto análogos aos dos E.U.A. para isso contribuindo em muito: 
  • o pleno emprego
  • salários em crescimento constante
  • elevada produção de bens de consumo
  • os preços acessíveis dos bens de consumo
Algumas características deste modelo económico e de consumo já são conhecidos: 
  • a publicidade 
  • o recurso ao crédito 
  • multiplicação dos espaços comerciais e dos serviços
  • a grande intensidade das trocas comerciais e o dinamismo económico de todos os sectores da economia. 

EXEMPLOS DE CONFLITOS NO PERÍODO DA GUERRA FRIA

 Conflitos do período da Guerra Fria - O Bloqueio de Berlim


O primeiro grande confronto entre a União Soviética e os Estados Unidos da América deu-se a propósito da Questão de Berlim

Em 1948 as potências ocidentais que ocupavam a Alemanha, E.U.A., Inglaterra e França consideravam fundamental a reorganização política duma Alemanha aberta à Europa e ao mundo ocidental como forma de oferecer uma resistência eficaz aos anseios de expansão do comunismo na Europa Ocidental, face ao que tinha sucedido em países como a Polónia, Hungria ou Checoslováquia, completamente dominados por regimes comunistas. Assim acordaram na criação de uma República Federal Alemã, projecto que foi mal recebido pelos russos que não aceitavam a entrega da soberania política aos alemães nem a desocupação do seu território pelas suas tropas. 

No entanto, como reacção ao projecto dos países ocidentais, a União Soviética decidiu a fundação de um estado alemão socialista, a Republica Democrática Alemã que no entanto só se tornou efectivo em 1949
Neste quadro conflituoso ficava por resolver a situação da capital, Berlim, que estava também dividida em quatro zonas de influência mas estava situada na zona de ocupação soviética. Os Soviéticos procurando impor a  dominação soviética a toda a cidade de Berlim e não só à sua zona da cidade forçando a saída dos ocidentais da cidade bloquearam as saídas e entradas na cidade de todos os transportes e pessoas impedindo assim o acesso das forças militares da Alemanha Ocidental às suas zonas de influência dentro da cidade. 
Neste contexto conflituoso foi organizada uma ponte aérea para abastecer as zonas ocidentais da cidade de Berlim durante o período de bloqueio em que os soviéticos mantiveram a cidade fechada. O bloqueio terminou em Maio de 1949. 

A Guerra Fria

O clima de tensão e antagonismo que se desencadeou com os acontecimentos referidos atrás, perdurou durante 40 anos e constituiu aquilo a que os académicos, jornalistas e estudiosos designaram como Guerra Fria
Este foi um conflito marcado por uma permanente corrida aos armamentos, um clima de paz armada entre as grandes potências e  a proliferação de pequenos conflitos locais em todo o mundo que exprimiam a oposição entre as duas potências que quase sempre se encontravam na retaguarda desses conflitos, apoiando cada uma das partes em confronto. 
Em oposição encontravam-se também duas visões do mundo, da sociedade e da economia e muitas vezes também de cultura: uma apoiada nos ideais de liberalismo, liberdade individual e livre iniciativa, a outra assente sobre ideais marxistas e leninistas de coletivização, estatização e economia planificada. Vários conflitos de carácter político ou revestindo o aspecto de lutas pela independência foram o rosto desse confronto, destacando-se apenas as seguintes: 

  • O conflito israelo palestiniano iniciado em 1948 com a independência de Israel
  • A formação da República Popular da China em 1949 com a subida ao poder de Mao Tse Tung 
  • A guerra da Indochina desde 1946 e a da Coreia iniciada em 1950.  
Vários episódios de espionagem e contra espionagem dominaram também as preocupações das duas superpotências. Em todas as situações, apoiando os antagonistas estavam presentes os interesses dos E.U.A. e a U.R.S.S.

O MUNDO CAPITALISTA - O MUNDO DE ALIANÇAS DOS EUA

 Como consequência do clima de crescente antagonismo, as superpotências criaram acordos militares de cooperação e entreajuda entre os seus mais próximos aliados. Os EUA criaram assim:


  • Em 1949 a NATO/OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) agrupando os E.U.A. e os seus aliados Canadá, e grande parte dos países da Europa Ocidental com carácter puramente defensivo  dos interesses dos países ocidentais e capitalistas. 
  • Outras alianças multilaterais reforçaram em todos os continentes este espírito defensivo: a OEA, a ANZUS, a OTASE e CENTO. Assim, em 1959, 75% do mundo alinhava com os E.U.A. em múltiplas alianças que reforçavam o seu poderio económico e político.
Ao mesmo tempo os EUA destacavam um conjunto de meios militares próprios para assegurarem a vigilância e a proteção dos seus interesses e dos países aliados. As esquadras americanas estavam estacionadas nas zonas marítimas estrategicamente mais importantes: 

2ª esquadra - Atlântico Norte até às Caraíbas
3ª esquadra - Pacífico central e costa oeste americana
4ª esquadra - América do sul 
5ª esquadra - Indico, Suez, Golfo Pérsico 
6ª esquadra - Mediterrâneo e atlântico oriental
7ª esquadra - Pacífico Central e ocidental, sueste asiático, mares da China e Japão

O TEMPO DA GUERRA FRIA - A CONSOLIDAÇÃO DE UM TEMPO BIPOLAR

 Mapa EUA e alianças 




Mapa mundo socialista anos 60

A partir de 1947 processou-se sob a tutela do Kominform (Secretariado de Informação soviético) a sovietização dos países da Europa Oriental transformando a expansão da influência soviética num perigo para o mundo capitalista ocidental. 
Reagindo à situação e dando razão a Churchill o presidente americano Harry Truman formulou a doutrina Truman que exprimia uma conceção dualista do mundo entre as duas superpotências. Os E.U.A. representavam o Bem e a U.R.S.S representava o Mal. 

Ao mesmo tempo Truman considerava a necessidade de auxiliar os países da Europa Ocidental como forma de evitar a repetição de situações ocorridas 20 anos antes e atenuar os efeitos de grandes recessões no mundo capitalista provocadas pelos efeitos da crise. 
Também o ministro soviético Jdanov afirmava por sua vez que competia à União Soviética a missão de apoiar os estados que perseguissem a paz e a liberdade na luta contra o imperialismo americano. 

Foi neste contexto que foi criado o Plano Marshall em 1947, plano de auxílio económico à Europa que pretendia auxiliar a recuperação económica dos países afetados pela guerra, mesmo os países que nela não tinham participado como Portugal ou a Espanha ou os que estavam na órbita política soviética. Este plano de ajuda deu origem à OECE (Organização Europeia de Cooperação Económica).

Em 1949 também a União Soviética lançou um programa semelhante de ajuda aos países da Cortina de Ferro, o Plano Molotov e posteriormente o COMECON, depois de terem recusado a oferta americana do Plano Marshall. 




Desta forma estabeleceu-se a partir dos anos 50 uma divisão política do mundo em áreas de influência controladas pelas duas superpotências.