segunda-feira, 31 de maio de 2021

AS CORRENTES ESTÉTICAS NA VIRAGEM DO SÉCULO


A segunda metade do século XIX, foi muito rica em propostas artísticas. Aqui fica de forma sintética a sua contextualização:

Realismo - corrente de reação clara aos pressupostos românticos:

  • em vez do culto do eu, propõe a análise da sociedade;
  • à nostalgia do passado contrapõe a análise crítica da contemporaneidade;
  • por oposição às paisagens dramáticas, representa cenas banais do quotidiano, em que as personagens não são heróis, mas pessoas simples.
O desejo de objetividade na arte reflete a aceitação da corrente filosófica positivista. O gosto pelo concreto levou a que, na pintura, os artistas Courbet, Millet e Manet representassem cenas do quotidiano; contudo, a tentativa de representar apenas o real chocou a sociedade burguesa da época.

COURBET - Enterro em Ornans


MANET - Olympia

Impressionismo - foi a partir da tela de Monet Impressão: Sol Nascente que nasceu o termo impressionistas (utilizado desdenhosamente por um crítico para designar um grupo de pintores, de que se destacam Monet, Renoir, Degas e Cézanne, que desafiaram as convenções artísticas da época). O Impressionismo procurava captar na tela a fugacidade do real. Aproximava-se da pintura realista no tratamento de temas vulgares e urbanos, mas aceitava a subjetividade do olhar, transmitida pelos efeitos de luz e pelas cores inesperadas. Graças à expansão do caminho de ferro e à novidade dos tubos de estanho com as cores já preparadas, os pintores impressionistas puderam trocar os ateliers pelo ar livre.

MONET - Senhora com chapéu de sol

RENOIR - O Passeio

DEGAS - A Estrela

Simbolismo - em reacção ao Realismo e às ideias positivistas, o Simbolismo acentua a possibilidade de existência de uma só realidade e propõe como alternativa a representação simbólica das ideias, razão por que os seus autores foram denominados simbolistas. Gustave Moreau e Puvis de Chavannes souberam criar nas suas telas um ambiente de mistério e de sonho, enquanto Paul Gauguin procurou afastar-se da civilização industrial europeia para procurar, na arte e na vida, um ideal de primitivismo.
Em Inglaterra, a pintura de Rossetti ou de Bourne-Jones (chamada Pré-Rafaelita por recusar os cânones do Renascimento) pode ser integrada na corrente simbolista pela aproximação ao sobrenatural e pela valorização de ambientes de evasão.

MOREAU - Édipo e a Esfinge

ROSSETTI - Helena de Tróia

BOURNE-JONES  - Cortejo Nupcial de Psyche

Arte Nova - assumindo-se, sobretudo, como um estilo decorativo, a Arte Nova resulta da vontade de imprimir colorido e graciosidade a uma Europa descaracterizada pela industrialização. Os artistas da Arte Nova elaboravam joias refinadas (Lalique), adornavam a entrada para o metropolitano parisiense, ilustravam painéis publicitários com gravuras de mulheres idealizadas entre flores e folhagens (Mucha). O requinte e a elegância permitem identificar, rapidamente, todas as facetas da Arte Nova.
Enquanto corrente arquitectónica, a forma ondulada, a aplicação do ferro e a valorização da estrutura como decoração marcaram as obras de Arte Nova, salientando-se as de Gaudí em Barcelona.
Na pintura, destaque-se Gustave Klimt.

RENÉ LALIQUE - Pendente "A Princesa Longínqua"

ALPHONSE MUCHA

Entrada do metro de Paris em estilo Arte Nova

ANTONI GAUDÍ - Igreja da Sagrada Família, Barcelona

As artes plásticas e a literatura seguiram caminhos comuns na revolução artística da segunda metade do século XIX, em particular nas correntes realista e simbolista.
Na literatura, as descrições minuciosas e a crítica social caracterizaram as obras literárias dos autores realistas, como Flaubert, enquanto Émile Zola (GerminalNanaTeresa Raquin) denunciava as condições de vida do operariado.




Émile Zola

O simbolismo literário caracterizou-se pela expressão do sobrenatural e pela valorização das ideias subjetivas, nomeadamente na obra de Baudelaire, e em Edgar Allan Poe, autor inglês cujas obras são carregadas de mistério.






quinta-feira, 27 de maio de 2021

A 1ª REPÚBLICA E O IDEÁRIO REPUBLICANO


A revolução foi preparada para ter início no dia 4 de Outubro, em Lisboa. Desde a madrugada foram-se organizando os oficiais revoltosos, que puderam contar com o auxílio da Marinha. Seguiram-se recontros entre os republicanos e as forças fiéis à monarquia.
A República foi proclamada às 9:00 horas do dia 5 de Outubro de 1910, da varanda dos Paços do Concelho.
Logo após a revolução, formou-se um Governo Provisório presidido por Teófilo Braga.
A Assembleia Nacional Constituinte elaborou a Constituição de 1911 e elegeu o primeiro presidente da República (Manuel de Arriaga). As linhas de fundo do regime político republicano eram:
  • a superioridade do poder legislativo (parlamentarismo), pois o Congresso da República, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, era dotado de amplos poderes: controlava o Governo e podia destituir o presidente da República. Esta característica pode em parte explicar a instabilidade governativa da Primeira República;
  • o carácter simbólico da figura do presidente da República, o qual era eleito pelo Congresso e não podia exercer direito de veto sobre as leis emanadas do próprio Congresso;
  • o sufrágio directo e universal para os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou fossem chefes de família.
Propaganda republicana na imprensa da época
As ideias republicanas assentam:
  • na laicização do Estado (separação entre a Igreja e o Estado) - porém as medidas anticlericais do ministro Afonso Costa (por exemplo, a expulsão dos jesuítas) fizeram com que a Primeira República perdesse parte do apoio popular;
  • na abolição da sociedade de ordens (através da aniquilação definitiva dos privilégios da nobreza e do clero);
  • na defesa dos trabalhadores (defendendo o direito à greve e o descanso obrigatório aos domingos para os assalariados);
  • no direito à instrução (reforma do ensino público) - a Primeira República conseguiu alguns resultados no domínio do ensino, no entanto, afastou os analfabetos da participação política.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

OS PROBLEMAS DA SOCIEDADE PORTUGUESA E A CONTESTAÇÃO DA MONARQUIA


No final do século XIX a sociedade portuguesa era mais instruída e informada que em 1852. A vida urbana tinha-se alterado significativamente, propiciando a proliferação das ideias republicanas e anti-monárquicas principalmente entre a burguesia urbana de Lisboa, Porto e Coimbra. Entre os factores que contribuíram para isso: 
  • A vida dos cafés, a educação básica e os jornais tornaram a opinião pública muito informada e interventiva. 
  • O rotativismo partidário entre os partidos do regime Regenerador e Progressista e a falta de soluções   contribuíram para a falta de credibilidade do sistema monárquico liberal, havendo suspeitas de manipulação de resultados eleitorais. 
  • os governos e o rei passaram a ser muito criticados sendo cada vez mais frequente a censura ao regime. 
  • A insatisfação e descontentamento populares eram grandes devido à crise económica e financeira que assolava o país. 
Neste contexto surgiu o Partido Republicano em 1876 desenvolvendo uma retórica antigovernamental e aproveitando todos os factos políticos e económicos que resultassem em argumentos que mobilizassem as populações e encontrassem eco nas suas reivindicações. 

Em 1890 o episódio do Mapa cor de rosa e do Ultimatum deu argumentos à oposição para reclamar com violência contra o rei. Abandonando aos ingleses as pretensões de ocupação dos territórios do Chire o governo português deu argumentos aos republicanos para desenvolverem uma série de acções populares de protesto contra o rei e os interesses ingleses.
Um ano depois em 31 de Janeiro de 1891 deu-se a primeira revolta republicana em Portugal.

O ambiente de contestação e de quase estado de sitio fez com que o rei visse a sua autoridade posta em causa sendo obrigado a tomar medidas de reforço do seu poder:
  • Convidou o politico João Franco para primeiro ministro
  • dissolveu o Parlamento em 1907 e deu a João Franco poderes de ditadura.
O sentimento antimonárquico tornou-se muito forte levando a Carbonária a organizar um atentado contra o rei em 1908, o regicídio, no qual faleceu também o príncipe herdeiro Luís Filipe.




D. Manuel tornou-se o último rei de Portugal como D. Manuel II. Sem conseguir resolver os problemas nacionais governou em contestação quase permanente sendo deposto em 5 de Outubro de 1910 juntamente com sua mãe D. Amélia. 

sábado, 8 de maio de 2021

PORTUGAL - ENTRE A DEPRESSÃO E A EXPANSÃO (1880-1914)

Apesar da revolução dos transportes e dos progressos na agricultura e na indústria, a Regeneração assentou o seu desenvolvimento económico em bases instáveis:
  • Livre-cambismo - abriu caminho à entrada de produtos industriais a baixo preço. Portugal não tinha condições de competitividade, pois a sua industrialização só se iniciou cerca de meio século depois dos outros países desenvolvidos da Europa. 
Ao mesmo tempo, a exportação de produtos agrícolas decaiu (devido à doença das vinhas - filoxera - e à concorrência de outros países). Como resultado de tudo isto, a balança comercial portuguesa era deficitária (as importações eram superiores às exportações), em particular por volta de 1890.
  • Investimentos externos - grande parte do desenvolvimento português (vias férreas, transportes urbanos, banca, indústria) fez-se à custa de investidores estrangeiros; sendo assim, as receitas originadas por esses investimentos não revertiam a favor de Portugal (por exemplo, o ramo dos tabacos registou um grande desenvolvimento, mas fiou na posse do capital estrangeiro a partir de 1891).
  •  Empréstimos - o défice das finanças públicas agravou-se ao longo do século XIX (chegando aos 10000 contos de réis entre 1885 e 1889). Os recursos utilizados para aumentar as receitas passavam pelas remessas dos emigrantes (que diminuíram devido à conjuntura política brasileira), pelo aumento dos impostos (medida muito impopular) e por pedidos de empréstimo ao estrangeiro, particularmente ao banco inglês Baring & Brothers (empréstimos que eram utilizados, a maioria das vezes, para pagar os juros de empréstimos anteriores). Por isso, quando o banco londrino faliu, em 1890, Portugal deixou de ter meios de lidar com a dívida. O culminar da crise ocorreu em 1892, quando o Estado português declarou a bancarrota (ruína financeira).
Esta crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa, que apostou nos seguintes vectores:
  • retorno à doutrina proteccionista (nova pauta alfandegária - 1892), que permitiu à agricultura enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar a produção no mercado em condições vantajosas;
  • concentração industrial, através da criação de grandes companhias, melhor preparadas para enfrentar as flutuações do mercado (por exemplo a CUF - Companhia União Fabril - produtora de adubos);
  • valorização do mercado colonial, para compensar a perda de mercados europeus;
  • expansão tecnológica, com a difusão dos sectores ligados à 2ª revolução industrial (electricidade, indústria química, metalurgia pesada) e da mecanização. 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

A REGENERAÇÃO E A POLÍTICA DE FONTES PEREIRA DE MELO

Em 1851 iniciou-se um novo período da história do Liberalismo político em Portugal: a Regeneração. Depois de um golpe de estado levado a efeito pelo Duque de Saldanha contra o governo pouco consensual de Costa Cabral, pretendia-se levar o país a um período de paz política e prosperidade económica, harmonizando os interesses das diversas classes: a burguesia e as classes rurais.
Pretendia-se finalmente conciliar os desejos e anseios das populações mais modestas, camponeses e pequena  burguesia com as ambições da alta burguesia.

Para esse efeito realizaram-se várias reformas: 
  • revisão da Carta Constitucional, com um Acto Adicional aprovado em 1852 que alargava o sufrágio e estabelecia eleições directas para a Câmara de Deputados. Ver Actos Adicionais à Carta Constitucional
  • promoção do rotativismo democrático com alternância  no poder dos partidos políticos. 
  • promoção de reformas económicas no sentido de promover o desenvolvimento da agricultura e da indústria nascente. 
Os transportes e as comunicações foram os sectores principais de investimento por parte do Estado. Contra o atraso estrutural que impedia comunicações eficazes entre cidades do interior e do litoral, os governos da Regeneração procuraram modernizar as comunicações do país criando um mercado nacional. Tal política designou-se por Fontismo, palavra oriunda do dinamizador deste movimento de modernização, o engenheiro António Fontes Pereira de Melo.

Fontes Pereira de Melo (1819-1887)


Preocupado com o atraso do país, iniciou uma política de instalação de infraestruturas e equipamentos: estradas, caminhos de ferro, carros elétricos, pontes, telégrafo, telefone.
Ponte D. Maria (Porto)
Inauguração do caminho de ferro

Central telefónica
Telefone
"O Chora" - o "avô" dos transportes públicos
O elétrico
Telégrafo
Como consequência deste investimento nos transportes e meios de comunicação, assistiu-se à criação de um mercado nacional, fazendo chegar os produtos a zonas mais isoladas  e estimulando o consumo; incrementou-se a agricultura e a indústria e alargaram-se as relações entre Portugal e a Europa evoluída.
Desta forma, podemos caracterizar as linhas mestras do desenvolvimento da Regeneração do seguinte modo:
  1. Revolução nos transportes - apostou-se na construção rodoviária e na expansão da rede ferroviária, construíram-se pontes e portos (como Leixões);
  2. Livre-cambismo - o desenvolvimento económico assentou na doutrina livre-cambista (pauta alfandegária de 1852 que reduzia as tarifas aduaneiras). Fontes Pereira de Melo (para além de ministro das Obras Públicas foi também ministro da Fazenda) defendia que: a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer a produção portuguesa; a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não produzia) a preços mais baixos beneficiava o consumidor; a diminuição das tarifas contribuía para a redução do contrabando.
  3. Exploração da agricultura orientada para a exportação - especialização em certos produtos agrícolas bem aceites no estrangeiro (vinhos, cortiça) bem como inovações agrícolas (arroteamentos, redução do pousio, mecanização, uso de adubos químicos...).
Máquinas agrícolas
4. Arranque industrial - apesar do atraso em relação a outros países da Europa, difundiu-se a máquina a vapor; desenvolveram-se alguns sectores da indústria (corticeiro, conservas de peixe, tabaco); concentraram-se empresas em alguns sectores (como o têxtil, por exemplo); aumento da população operária (principalmente no Norte) apesar de maioritariamente não qualificada; criaram-se sociedades anónimas; aplicou-se a energia eléctrica à indústria (já no século XX).



Contudo,  o crescimento industrial foi limitado devido aos problemas de base de que sofria a economia portuguesa: 
  • falta de matérias-primas; 
  • falta de população ativa no sector industrial; 
  • falta de formação dos operários e do patronato; 
  • orientação dos investimentos para atividades especulativas e não para atividades produtivas; 
  • dependência do capital estrangeiro.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

RIVALIDADES IMPERIALISTAS





A França impunha-se ao Império Alemão, o que se explica, por um lado, pela disputa da Alsácia e da Lorena (territórios perdidos para a Alemanha em 1871 - guerra franco-prussiana) e, por outro lado, pelo desenvolvimento alemão que retirou à França parte da preponderância económica que esta detinha sobre a Europa. Em contrapartida, a França conseguiu dominar grande parte do Norte de África.
O Império Russo opunha-se ao Império Austro-Húngaro, o que se justificava pela disputa da influência nos Balcãs. O Império Russo também se opunha ao Japão, pois as ambições russas no Extremo Oriente colidiam com o imperialismo japonês, o que acabou por provocar a guerra russo-japonesa (1904-1905), de que o Japão saiu vitorioso.
A tensão gerada por estas rivalidades económicas e políticas levou os Estados europeus a procurarem aliados:
1879 - Dupla Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria);
1882 - Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália);
1907 - Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha).
A política de alianças era complementada por uma corrida aos armamentos.

11

12

Em 1908 a Áustria-Hungria anexou a Bósnia-Herzegovina, gerando protestos da Sérvia, a qual pretendia desempenhar um papel influente nos Balcãs (panservismo).

Assassinato do herdeiro da Áustria-Hungria


Em 1914, quando o herdeiro ao trono austro-húngaro foi assassinado na Bósnia, a suspeita de que a Sérvia pudesse estar envolvida no acto levou o imperador Francisco José da Áustria-Hungria a declarar guerra à Sérvia. 
Era o fim da paz armada e o início da 1ª Guerra Mundial.